quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ergo esta espada...


Ergo esta espada que Deus me deu
ergo-a do sangue das madrugadas
e dos olhos de água das terras distantes
dos outros peitos

é da fragrância da lonjura que eu falo
e dos mitos e historias que ninguém contou
é dos campos em fogo
é dos vulcões
é dos medos transmutados
da mentira
dos ódios sem palavras
da vida a prazo
do jogo e das vaidades

é de mil joelhos em terra que eu falo
é de orações
e de longos braços abertos
ainda assim teimosamente abertos
na certeza da redenção.



(Teresa Cuco; “do Amor e da Espada”; corpos editora;2008)

até que um dia...


[...até que um dia, há um momento exacto em que te dás conta; o tempo nada mudou e os lugares são cenários de um qualquer filme. ]

Nesse instante, nesse preciso instante,

libertas-te para sempre dessa dor

e sabes e sentes em ti a maior certeza do mundo:

o que é Teu, É simplesmente.

Por muito que te amarrem o corpo,

por muito que te tolham o pensamento,

por muita lágrima, por muito tormento...

É simplesmente! E aí, tanto faz;

não importa se o abraço não acorre ao peito

ou o beijo não acorre à boca;

não importa quantos corpos percorras

ou quantas mãos consintas no teu rosto;

tudo deixa, realmente, de ter importância.

O tempo nada mudará

e os lugares serão sempre cenários

de um qualquer filme.

Porque o que É Teu, É, para sempre!

(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

gastei o meu amor nos poemas


Gastei o meu amor nos poemas

elegia infinita da palavra.

Gastei-o pelos teus passos

que outros caminhos pisaram

nas intermináveis horas de solidão.

Gastei a minha ternura

nas folhas brancas da espera.

Gastei-a pelos teus braços

que só os meus braços quiseram

quando outros braços te perderam.

Gastei os meus olhos

nos retratos de outras cidades.

Gastei-os na memória dos teus olhos

quando outros olhos me abandonaram.

Assim se gastou o meu amor

elegia da palavra

poema eterno de ti.

(Teresa Cuco; "do Amor e da Espada", corpos editora, 2008)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

digo Amor


Digo Amor.
não sei que outro nome teriam as mãos
que à noite se lançam e cortam os corpos como espadas
e revolvem entranhas e encetam jornadas.
A noite, traz silenciosas angústias
e obriga a que apertemos contra o peito
um qualquer resto de inocência que nos sirva no labirinto.
Depois, há palavras que queimamos na carne
para que nunca nos esqueçamos de quem Somos.
Digo Amor
Morte
Impermanência
Verdade
Fé.
E digo Amor outra vez.
Não sei que outro nome teria este espaço
onde se deita o coração para
seguirmos adiante.
Derrubando montanhas e desbravando caminhos.
Rumo à Terra que há em nós.


(Teresa Cuco; "do Amor e da Espada"; corpos editora, 2008)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

vislumbrei-te...



Vislumbrei-te
na esquina de outro tempo
quando era impossível voltar atrás
Vislumbrei-te e passei adiante.
Cruzei os mares e os mundos
movi montanhas
aticei guerras
morri nos abismos
dei à luz outras terras
renasci de mim
em cada segundo
E quando te pensava distante
afinal eras eu
no virar do tempo.
Mais adiante.



(Teresa Cuco;"lugares de mim"; corpos editora,2006)

o dia ergueu-se...


O dia ergueu-se das margens do teu corpo.

E todos os gestos

de todas as manhãs

se tornaram subitamente brandos.


(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora, 2006)

entre nós e as palavras...


Entre nós e as palavras

há o Silêncio

e a certeza da eternidade

entre nós e as palavras

há a coincidência

o mágico e consentido

esquecimento

da Verdade

entre nós e as palavras

há o Vazio

o indizível

o que não tem forma

nem verbo

nem vontade

entre nós e as palavras

o Divino

Sagrado

Inevitável

Predestinado

E é nesse Silêncio

nesse Vazio

nessa Ausência

que me reconheço

e cresço

e me invento

e nos reinvento

e revejo a minha Casa.

Só depois vêm as palavras.


(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora,2006)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

se falo desses lugares...


[Se falo desses lugares
é porque sei que já lá estivemos]

mas isso foi no tempo
em que eu era apenas
uma brisa na tua cara.




(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora,2006)

deixo em branco...


Deixo em branco o espaço da ternura
e elevo o Silêncio da tua memória.
Assim escrevo as páginas da tua ausência
e os segredos ocultos na voz do vento
projectam-se
nas paredes de todas as casas
e de todos os corações
finalmente desfeitos
finalmente vazios.
Na verticalidade do sentir
cruzo-me com todos os poetas
que morreram antes de mim.

(Teresa Cuco;"lugares de mim";Corpos editora-2006)