domingo, 18 de abril de 2010

explicaram-me as leis da Física...

Explicaram-me as leis da Física
falaram-me da gravidade
do atrito
da velocidade e do peso
das forças centrífuga e centrípeta
do asfalto
da inclinação
do vento e do tempo
da iluminação
das condições psicológicas
das condições fisiológicas
tempo de percepção
e tempo de reacção
fizeram desenhos e
traçaram trajectórias...
velocidade
travagem
impacto
força
capotamento
arrastamento
colisão
............................................
Depois disseram-me que era melhor
não pensar
(assim conquistaste a eternidade da minha memória;
chorar-te-ei para sempre)

(Teresa Cuco)

disseram-me...

Disseram-me que numa noite te perdeste
saíste à procura de uma luz
que há muito pressentias

E nunca mais voltaste

Disseram que te transformaste
numa estrela
e que agora velas no céu
todos os caminhantes que se perderam.

(Teresa Cuco; lugares de mim; Corpos Editora, 2006)

Os teus olhos...

Os teus olhos falam-me
de caminhos que só as estrelas entendem
dizem-me poemas e paisagens
que só a noite segreda
os teus olhos falam-me
de mãos e de corpos
e de risos
de manhãs claras
falam-me de tudo o que fui
de tudo o que sou
os teus olhos são o espanto
a descoberta
o rio
a que me dou.

(Teresa Cuco-inédito)

os velhos desfiam as horas...

Os velhos desfiam as horas
por detrás das vidraças
contam os dias da solidão
têm memórias de quem passa
todos os dias
para lá da vidraça
contam os passos apressados
e palpita-lhes o coração
quando os passos morrem
na calçada
junto à vidraça
Para lá dela, há outros velhos
que passam
têm guias e bonés e carteiras
a tiracolo
falam línguas estranhas
e calcorreiam em bando
as ruas e as praças da cidade
Param
Filmam
Tiram fotos das fachadas
E das janelas
Por detrás das quais, os velhos,
-os outros- desfiam as horas
e contam os passos
de quem passa.

(Teresa Cuco)

que novas me trazes...

Que novas me trazes, anjo da noite...
Mil anos de guerra
Mil anos de amor
Corpos quebrados
Corações amargurados
Tanto ódio
Tanta raiva...
Tanto amor guardado
Tanto espanto silenciado...
E estamos tão sós, meu anjo da noite
E engolimos o desejo
E adiamos o beijo
E vergamo-nos ao mesmo peso
Dessa guerra
E dessa Terra
Vórtice que nos embebeda
E nos maltrata
Amor que nos redime
E que nos mata
Nenhumas novas me trazes,
anjo da guerra...
mil anos de noite
mil vagas de terra
mil águas de espanto...
prendem-te nesse céu
cobrem-te nesse chão
e continuamos tão sós, meu anjo da noite
no vórtice
do desejo
no peso
desse beijo
na guerra..
Terra desse Amor.

(Teresa Cuco/2004)