quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Faltava-lhe o sono...

Faltava-lhe o sono.
O espaço onde a alma se regenera…dizem.
Amanhã seria outro dia
(como se amanhã fosse mais que o prolongar do primeiro dia)
Inclinou-se sobre si
como se fosse outra.
A outra.
E procurou algum sinal de esperança nas cordas emaranhadas do tempo.
Às vezes, lembrava-se de ter sido criança
mas nunca o sonho
nunca o conto de fadas.
Depois fazia um derradeiro esforço
e lembrava-se que lhe haviam contado histórias...
mas não se lembrava do que sentia.
Não se lembrava de sentir.
Lembrava-se de não lhe apetecer a vida.
Nem o riso.
Só muito mais tarde se lembrava de ter rido.
Agora também se esquecia muitas vezes
mas já lhe apetecia mais a vida.
Não sabia porquê.
Há pouco tempo sentira raiva
revolta.
-a raiva inventa uma almofada dentro do peito
e dá-nos coragem para as coisas mais impensadas-dizia-.
fazia-lhe mal a mentira.
E a omissão, que é a mentira dissimulada.
Achava que não sabia amar.
Por isso, ninguém a amava.
Pensava, no entanto, que as suas mãos tinham um amor inexplicavelmente grande…
depois passou-a raiva- como que por magia
e levou-lhe a coragem…
mas não se importou porque sabia que a almofada não era de verdade.

(teresa cuco)

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