quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

sei do que falas...

Sei do que falas.
Sei da noite a agigantar-se
medonha
Sei dos tentáculos a multiplicarem-se dentro das horas
e das horas a encolherem-se dentro dos dias.
Sei do barulho na cabeça
a empurrar o silêncio
a minar o silêncio
a sufocar o silêncio
Sei do peso sem palavras
sem gestos
sem rostos
peso da agonia
do beco sem saída
a entranhar-se por dentro da esperança
Sim.
Eu sei do que falas.
Sei do que sentes.
Sei das guerras, dos tormentos
das esquinas sem ruas e sem praças
e de andar perdida
sem encontrar a minha casa
E sei do medo
E da morte
Eu sei.
Por isso não quero que saibas.

(Teresa Cuco)

agora...

Agora
agita-se o coração
e baralham-se as palavras
permaneço aqui-ainda aqui-
na ideia da minha Casa
e vou e voo neste céu
e deito-me e flutuo neste chão
e ergo-me em mim
nesta prece de pedras sagradas
que mudas reverenciam
a memória de outras Casas
e o meu coração enche-se do Silêncio
e o meu peito banha-se deste universo
e eu já não tenho medo
porque já não quero
E a minha estrela está lá.
No coração da terra.


(Teresa Cuco)

senta-te aqui...

Senta-te aqui

Sossega em ti

Não prendas a vida

Aceita os limites

Aceita o tempo

Aceita o medo

Assim os transcenderás.

(Teresa Cuco)

sou quem sou...

Sou quem sou

no espelho dos teus olhos

Pouso o coração

nas tuas mãos em concha

e acredito na magia

da minha solidão.

Eu cruzei mares para te ver

Trazia um caminho no sangue

e uma luz

única

urgente

para te devolver.

(Teresa Cuco)

fecho-me aqui...

Fecho-me aqui
ao redor de ti

Depois ergo uma noite
sem fim

Penduro estrelas no meu céu

Beijo a boca das palavras

E deito-me no silêncio.

Sem mágoas.


(Teresa Cuco)

Estende-se a meus pés ...

Estende-se a meus pés
o mar da vida

A outra metade da vida

O colo de um Deus oculto

Os braços de uma mãe paciente

Toma a minha mão

Sejamos crianças

Na outra metade da vida.

(Teresa Cuco)

Arrastas essas cadeias...

Arrastas essas cadeias
embrenhas-te nessa bruma
e sonhas com rios
onde as aves matarão a sede
e o mundo lavará as mágoas .

Entretanto, os relógios não se calam!!!

E há um grito de urgência
em tudo o que não fazes.

(Teresa Cuco)

Há gritos...

Há gritos partidos nas portas que não batem.

Ainda procuro aquela janela em cruz no meio da noite cerrada.

(Teresa Cuco)

Faltava-lhe o sono...

Faltava-lhe o sono.
O espaço onde a alma se regenera…dizem.
Amanhã seria outro dia
(como se amanhã fosse mais que o prolongar do primeiro dia)
Inclinou-se sobre si
como se fosse outra.
A outra.
E procurou algum sinal de esperança nas cordas emaranhadas do tempo.
Às vezes, lembrava-se de ter sido criança
mas nunca o sonho
nunca o conto de fadas.
Depois fazia um derradeiro esforço
e lembrava-se que lhe haviam contado histórias...
mas não se lembrava do que sentia.
Não se lembrava de sentir.
Lembrava-se de não lhe apetecer a vida.
Nem o riso.
Só muito mais tarde se lembrava de ter rido.
Agora também se esquecia muitas vezes
mas já lhe apetecia mais a vida.
Não sabia porquê.
Há pouco tempo sentira raiva
revolta.
-a raiva inventa uma almofada dentro do peito
e dá-nos coragem para as coisas mais impensadas-dizia-.
fazia-lhe mal a mentira.
E a omissão, que é a mentira dissimulada.
Achava que não sabia amar.
Por isso, ninguém a amava.
Pensava, no entanto, que as suas mãos tinham um amor inexplicavelmente grande…
depois passou-a raiva- como que por magia
e levou-lhe a coragem…
mas não se importou porque sabia que a almofada não era de verdade.

(teresa cuco)