sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

lançamento "do Amor e da Espada" ; algumas imagens




Deixo-vos algumas imagens da noite fantástica do passado dia 21 de Fevereiro;
breve acrescentarei excertos do que foi dito, musicado, poetado e vivido nesse serão.
Esse, o vivido, só possível devido a todas as pessoas que estiveram presentes: amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos...todos!
Muito obrigada.
Até breve.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

"do Amor e da Espada"- lançamento



Da Fixação como Resistência.

Todo o século vinte reflectiu a pujança da alteridade, na sequência de uma certa carta que Rimbaud escreveu a Verlaine onde profetizava: Je est un autre. A poesia portuguesa, porém, inscreveu a alteridade logo na sua raiz, nas cantigas de amigo onde o amigo se alterava em amiga.
O outro é assim a matriz medieval dos textos fundadores e voltará, pela mão do romantismo a essa fundação seja pelos pseudónimos seja pelos alterónimos. Uma outra tradição fundacional é aquela que chega pelos textos árabes de Al-Mutamid,Ibn-al-murahal ou Ibn-Ammar. Neles a cisão autoral não se verifica e a fragmentação em papéis não é vertida em texto.
Talvez a posmodernidade seja, pela indefinição, o colapso da alteridade e a busca da inteireza ou do veraz.Tal altericídio, porém,não parece restituir o eu por muita negação do ego que seja praticada. O eu, como mito necessário e realidade fisiológica, aparenta-se sempre ao outro que o espelha ou distingue.
Ao ler estes textos de Teresa Cuco, estas reflexões impõem-se-me como nuvem de onde seja possível chover pensamento.
Teresa Cuco pratica uma atinência ao outro, sem no entanto se alterar em voz do outro. A estética mais aguda é, nela, a estética da recepção. Talvez de uma recepção inteira da qual não salvaguarda nenhuma parte neuro-emocional para praticar o póstumo. Esta resistência ao outro (a não mudança, a fixação no outro) traz como resgate a memória impregnada como lição aprendida em Simónides. O teatro da memória, nas ritualidades do quotidiano e antropoculturais, apresenta cada vez mais espectadores e cada vez menos viventes. O sistema de trocas, aparentemente terapêutico, processa-se pelo continuum, pela velocidade contra o sedimento. Muito raro haver quem, como Teresa Cuco, não se deslumbre com o instantâneo e consiga a permanência do invisível.
Ou, como diz Marina Tsevetaeva: “Não é possível dividir-te/em cadáver e fantasma./Não te trocarei pelo fumo dos incensos/Ou pelas flores das campas.”
alberto augusto miranda, in Prefácio, do Amor e da Espada, Teresa Cuco, Editora Corpos, 2008

[Une-nos o silêncio mágico da terra.
O arrepio das memórias das ausências.
Une-nos o espaço em branco
das palavras.
E o poema...
sempre o poema.]

Teresa Cuco, in do Amor e da Espada

As presenças:

Alberto Augusto Miranda, prefaciando...

Poemando... Margarida Morgado, Eduardo Raposo, Davide Santos e Ana de Sousa.

Musicando, nesta noite tão especial, João Cágado e Manuel Dias, com 3 temas de "Magna Terra":

- Guardador De Rebanhos
- Avondo De Mim
- Algo É Nosso

Improvisando... João Cágado, à guitarra, e os poemas de Teresa Cuco pela voz da própria!
e
concluindo... com o tema de encerramento da noite:
- Dádiva Do Mundo

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

há em mim um lugar...



Há em mim um lugar
de recolhimento
uma terra virgem
um templo de meditação
pedra antiga em que me sento
e penso
com um vagar que é só meu

há em mim um lugar
de redenção
em que perdôo e me perdôo
em que me esqueço de tudo e vôo
asas abertas rasando o chão

há em mim uma paisagem
uma planura
cores de terra e de céu
pedras
rios
música de anjos...

há em mim
um lugar que ninguém sabe
de príncipes e de quimeras
de harmonia perfeita
de luz
amor e transparência
de gestos de risos
e risos de manhãs claras

há em mim
um lugar recôndito
de musgo e doces frutos
de flores-amores-perfeitos
onde fecho os olhos
e amanheço.

(Teresa Cuco;"lugares de mim";corpos editora;2006)

vens no fim do dia...


Vens no fim do dia
e trazes-me o espírito da noite
Falas-me
dos cavaleiros andantes
das estrelas que guiam os caminhantes
da magia dos sorrisos
Dizes
de ti
do mundo
de mim
E toda a emoção do universo
acorre aos meus sentidos
E calam-se as guerras
E quebram-se os gritos
E renasce em cada passo
A flor
O mar
A chama
O chão dos anjos pressentidos
A glória da terra
no céu dos esquecidos

....


(Teresa Cuco)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

escrevi o teu nome




Escrevi o teu nome
com o canto dos pássaros
que finalmente chegaram
e agarrei na terra
sem pensar na morte

esfreguei a cara de vento
e aguardei o cheiro
de mar
que só o trigo sabe dar

depois
aquietei-me na sombra dos teus olhos
na memória da tua voz
na ternura das tuas mãos
na certeza do teu pensamento

Espero agora o renascer.



(Teresa Cuco;"lugares de mim"; corpos editora; 2006)

disseram-me...

Disseram-me que numa noite te perdeste

Saíste à procura de uma luz

que há muito pressentias

e nunca mais voltaste

Disseram que te transformaste

numa estrela

e que agora velas no céu

todos os caminhantes que se perderam.



(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora; 2006)

apagaram-te os sonhos...


Apagaram-te os sonhos

e foram mais densos os silêncios
e mais frias e cortantes as espadas.
Hoje, como ontem,
és um homem bom.
És um homem só.



(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora, 2006)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

alongam-se as horas...


Alongam-se as horas

na memória dos gestos

e todos os seres se foram

e ferem

de ausência

as ondas do silêncio

já não explodem

em espanto

e espuma

e incenso...

e todos os lugares

se confundiram para sempre

e para sempre se perderam

por dentro dos mapas

só este momento nos pertence

intervalo

espaço em branco

pedra ou rio

braços abertos

na esperança do coração da terra.


(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

aceito este momento...


Aceito este momento

elevo-me num pensamento

e bebo a minha solidão

este é o meu momento

aceito o pensamento

abro as mãos ao céu

voo nesse esplendor

e renasço eternamente

Porque todo o momento que é Meu

pertence-me simplesmente.

[impossível o erro]

(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)