sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
"do Amor e da Espada"- lançamento

Da Fixação como Resistência.
O outro é assim a matriz medieval dos textos fundadores e voltará, pela mão do romantismo a essa fundação seja pelos pseudónimos seja pelos alterónimos. Uma outra tradição fundacional é aquela que chega pelos textos árabes de Al-Mutamid,Ibn-al-murahal ou Ibn-Ammar. Neles a cisão autoral não se verifica e a fragmentação em papéis não é vertida em texto.
Talvez a posmodernidade seja, pela indefinição, o colapso da alteridade e a busca da inteireza ou do veraz.Tal altericídio, porém,não parece restituir o eu por muita negação do ego que seja praticada. O eu, como mito necessário e realidade fisiológica, aparenta-se sempre ao outro que o espelha ou distingue.
Ao ler estes textos de Teresa Cuco, estas reflexões impõem-se-me como nuvem de onde seja possível chover pensamento.
Teresa Cuco pratica uma atinência ao outro, sem no entanto se alterar em voz do outro. A estética mais aguda é, nela, a estética da recepção. Talvez de uma recepção inteira da qual não salvaguarda nenhuma parte neuro-emocional para praticar o póstumo. Esta resistência ao outro (a não mudança, a fixação no outro) traz como resgate a memória impregnada como lição aprendida em Simónides. O teatro da memória, nas ritualidades do quotidiano e antropoculturais, apresenta cada vez mais espectadores e cada vez menos viventes. O sistema de trocas, aparentemente terapêutico, processa-se pelo continuum, pela velocidade contra o sedimento. Muito raro haver quem, como Teresa Cuco, não se deslumbre com o instantâneo e consiga a permanência do invisível.
Ou, como diz Marina Tsevetaeva: “Não é possível dividir-te/em cadáver e fantasma./Não te trocarei pelo fumo dos incensos/Ou pelas flores das campas.”
alberto augusto miranda, in Prefácio, do Amor e da Espada, Teresa Cuco, Editora Corpos, 2008
[Une-nos o silêncio mágico da terra.
O arrepio das memórias das ausências.
Une-nos o espaço em branco
das palavras.
E o poema...
sempre o poema.]
Teresa Cuco, in do Amor e da Espada
As presenças:
Alberto Augusto Miranda, prefaciando...
Poemando... Margarida Morgado, Eduardo Raposo, Davide Santos e Ana de Sousa.
Musicando, nesta noite tão especial, João Cágado e Manuel Dias, com 3 temas de "Magna Terra":
- Guardador De Rebanhos
- Avondo De Mim
- Algo É Nosso
Improvisando... João Cágado, à guitarra, e os poemas de Teresa Cuco pela voz da própria!
e
concluindo... com o tema de encerramento da noite:
- Dádiva Do Mundo
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
há em mim um lugar...
Há em mim um lugar
de recolhimento
uma terra virgem
um templo de meditação
pedra antiga em que me sento
e penso
com um vagar que é só meu
há em mim um lugar
de redenção
em que perdôo e me perdôo
em que me esqueço de tudo e vôo
asas abertas rasando o chão
há em mim uma paisagem
uma planura
cores de terra e de céu
pedras
rios
música de anjos...
há em mim
um lugar que ninguém sabe
de príncipes e de quimeras
de harmonia perfeita
de luz
amor e transparência
de gestos de risos
e risos de manhãs claras
há em mim
um lugar recôndito
de musgo e doces frutos
de flores-amores-perfeitos
onde fecho os olhos
e amanheço.
(Teresa Cuco;"lugares de mim";corpos editora;2006)
vens no fim do dia...
Vens no fim do dia
e trazes-me o espírito da noite
Falas-me
dos cavaleiros andantes
das estrelas que guiam os caminhantes
da magia dos sorrisos
Dizes
de ti
do mundo
de mim
E toda a emoção do universo
acorre aos meus sentidos
E calam-se as guerras
E quebram-se os gritos
E renasce em cada passo
A flor
O mar
A chama
O chão dos anjos pressentidos
A glória da terra
no céu dos esquecidos
....
(Teresa Cuco)
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
escrevi o teu nome
Escrevi o teu nome
com o canto dos pássaros
que finalmente chegaram
e agarrei na terra
sem pensar na morte
esfreguei a cara de vento
e aguardei o cheiro
de mar
que só o trigo sabe dar
depois
aquietei-me na sombra dos teus olhos
na memória da tua voz
na ternura das tuas mãos
na certeza do teu pensamento
Espero agora o renascer.
(Teresa Cuco;"lugares de mim"; corpos editora; 2006)
disseram-me...
Saíste à procura de uma luz
que há muito pressentias
e nunca mais voltaste
Disseram que te transformaste
numa estrela
e que agora velas no céu
todos os caminhantes que se perderam.
(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora; 2006)
apagaram-te os sonhos...
Apagaram-te os sonhos
e foram mais densos os silêncios
e mais frias e cortantes as espadas.
Hoje, como ontem,
és um homem bom.
És um homem só.
(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora, 2006)
domingo, 8 de fevereiro de 2009
alongam-se as horas...
Alongam-se as horas
na memória dos gestos
e todos os seres se foram
e ferem
de ausência
as ondas do silêncio
já não explodem
em espanto
e espuma
e incenso...
e todos os lugares
se confundiram para sempre
e para sempre se perderam
por dentro dos mapas
só este momento nos pertence
intervalo
espaço em branco
pedra ou rio
braços abertos
na esperança do coração da terra.
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
aceito este momento...
Aceito este momento
elevo-me num pensamento
e bebo a minha solidão
este é o meu momento
aceito o pensamento
abro as mãos ao céu
voo nesse esplendor
e renasço eternamente
Porque todo o momento que é Meu
pertence-me simplesmente.
[impossível o erro]
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)