do Amor e da Espada
terça-feira, 26 de março de 2013
estátuas de sal
vêm-me à memória as estátuas de sal
as que são agora pássaros e árvores e terra.
disseste: "somos eternas"...
e depois foste partindo
para te tornares pássaro e árvore e terra.
esta terra alentejana que tanto amamos.
agora
há tantas coisas para te contar
(o que é que eu faço às coisas que tenho para te contar???)
e as gavetas cansaram-se de guardar os recados e as fotografias
e colaram-se nos meus olhos
e os teus recados escorrem pelas paredes
e apertam-me a garganta.
procuro lembrar as tuas mãos
e tenho medo de me esquecer da tua voz.
e sim, eu sei que a morte não existe.
mas hoje...
------------------
Abraço-te.
(Teresa Cuco -inédito)
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
foi num dia assim
foi num dia assim
que saímos de casa.
lembro-me do saco vermelho
do livro à cabeceira
e das pantufas quentinhas que te tinha comprado.
lembro-me do corredor com a sala ao fundo
e do teu sofrimento calado
lembro-me de te abraçar abraçar abraçar
e de como te aquietavas no nosso abraço...
"bom ano querida..."
lembro-me da espera.
lembro-me de rezar.
foi num dia assim que voltei sózinha à nossa rua.
guarda tu agora a nossa Casa
e o nosso abraço.
e abraça-me
quando eu chegar.
(Teresa Cuco - inédito)
domingo, 4 de março de 2012
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
havia uma casa...
e um rádio que tocava ininterruptamente
e uma mesa sempre posta
e um armário grande a desafiar todos os medos e fantasias.
Havia uma casa com pessoas lá dentro.
Chamávamos-lhe nossa.
(Teresa Cuco)
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
lágrimas iguais às minhas...com ou sem burka.
quem te segurou nos braços,
meu amor?
Quando a fome veio e o frio
das bombas
e do medo
e do abandono
se instalou no teu corpo inteiro,
quem te acolheu
ó meu amor?
E quando vieram
os salvadores do mundo
e te mataram
quem, ó meu amor,
secou as lágrimas da tua mãe
e lhe aqueceu o coração?
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada, corpos editora, 2008)
(url imagem : artwork_images_113308_124988_james-nachtwey.jpg)
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
terça-feira, 4 de outubro de 2011
3 poemas e um video
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
não sei...
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
respira...
terça-feira, 14 de junho de 2011
caminhos tortos...
Caminhos tortos aos olhos dos outros
nunca aos nossos.
Que os nossos caminhos tortos
são um fio-de-prumo perfeito
um caminho todo a eito
rumo ao infinito…
dos nossos corpos.
(Teresa Cuco/inédito)
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Deito por terra
Deito por terra
o que sobra das palavras
que não digo.
Redondo é o teu olhar.
E é de vidro
este silêncio
a que me obrigo.
(Teresa Cuco)
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Ergues as mãos que te restam
Ergues as mãos que te restam
e rezas como podes a um Deus
em que não acreditas
amas sem entrega
a um amor que não sentes
caminhas mas não são teus esses passos
embaraças-te...vacilas
mas não é tua essa dúvida
vives os dias que outros
te emprestaram
hipoteca sem termo
de uma razão adiada.
(Teresa Cuco)
Os homens saíram da pressa...
e fecharam para sempre
as gavetas da impaciência
abandonaram os olhos e as mãos
da noite
e quiseram perder-se
para se encontrar
no silêncio da lua
no leito da terra
no arco-íris doutro tempo
no tempo doutras idades
quiseram ser mágicos
e foram magia
quiseram ser puros
e foram livres.
(Teresa Cuco/inédito)
sexta-feira, 25 de março de 2011
Tenho saudades desse que me morreu
que adivinhava as minhas mágoas
que me falava sempre a verdade
e me ensinava a espalhar estrelas
e a desbravar alvoradas.
na almofada do seu peito
eu descobria o nome de todos os vendavais
que nasciam no meu peito
e se deitavam nos trigais.
e eu aprendia a confiar.
e eu confiava.
por ele, correria o mundo inteiro.
com ele, eu vencia os maiores temores
e eu era a força e a palavra.
era livre como o vento.
e voava…
voava.
tenho saudades do meu amigo.
sim, esse que me morreu.
e me levou a liberdade.
e me deixou vazia.
sozinha.
sem nada.
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Frágil
o momento em que me sustenho
no respirar de mais um dia
Fugaz
o Deus que me habita
quando a noite vem
e o silêncio é uma ferida
Pequeno
o mundo que me aperta
e obriga
Triste
a palavra que nunca deveria ser dita.
(Teresa Cuco-inédito)
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Diz-me onde mora Aquele que não se diz
Diz-me onde mora Aquele que não se diz
o Inominável, o Vazio, O que não tem forma…
que eu corri montanhas e travei guerras
desci aos meus medos mais profundos
estalei no meio da dor
castiguei-me em mil tormentas
ardi no caos das descobertas
fui amada e odiada
amei-me e odiei-me
morri no fogo da incerteza
afoguei-me no meio da lama
abri caminhos por entre as chamas
procurei por mim sem saber quem era,
e mais perdida no fim me achei
do que quando comecei;
diz-me onde mora Esse de que falam
que acalma os corações dos aflitos
que abraça e ama a todos por igual
que não condena nem julga nem oprime
que pacifica os vendavais
e segreda a brisa dos trigais
diz-me
diz-me
diz-me tu…ou mata-me
porque eu já não sou capaz!
II.
Eu não te posso dizer a morada d’Aquele que não se diz, que não tem nome, nem forma, nem vontade, que apenas É!
Só te posso dizer que encontrarás a Sua morada quando encontrares a tua Casa, e que para encontrares a tua Casa terás de morrer mil vezes e outras tantas te perderes no meio de encruzilhadas.
(Teresa Cuco - do Amor e da Espada, 2009,Corpos Editora)
terça-feira, 6 de julho de 2010
trança da tristeza
como quem desenleia os nós que queimam dentro do peito
depois, sem pressa, separou em três a primeira fiada;
começou ao centro,
onde a dor doída era maior e mais intensa
ausência daquele abraço
que a aconchegaria pela manhã
acrescentou outra fiada
saudades dos que lhe morreram
deixando tantas coisas por dizer…
e dos que partiram
deixando um vazio na casa
e dentro do seu coração.
A terceira fiada foi a das facas
mágoas tantas de si própria
sua perdição.
Assim
naquele dia
entrançou até ao fim a sua dor
e amarrou-a
com fios brancos
de infinita solidão.
Teresa Cuco in Antologia de Novos Poetas Alentejanos;(no prelo)
segunda-feira, 21 de junho de 2010
não me morrerás
Não me morrerás
nem os silêncios se instalarão como espadas
nem me conformarei a um qualquer determinismo
Não te matarei
enquanto o espelho me devolver no meu o teu rosto
e o sangue me correr nas veias
como o rio que ainda é nosso.
O nosso rio.
Não nos abandonarei
enquanto tiver nos braços o abraço
e no coração a intrincada renda
do nosso amor.
(Teresa Cuco -inédito)
quinta-feira, 27 de maio de 2010
um dia ...
nas malhas encantadas
por sábias mãos tecidas.
Caídos os panos
soltas as feras
agigantou-se a sombra
de tudo o que deveria ter sido
e não foi.
Agora era
faminta e desgrenhada
devoradora de noites cerradas
fantasma dos que morreram
de todas as formas que é possível morrer-se.
Grito dos que sobreviveram
de todas as formas que é possível sobreviver-se.
Era mendiga e era a sorte
Era a renúncia.
A aflição.
O desnorte.
E era, um pouco mais além,
a sua própria morte.
Um dia,
de alguma forma,
entraria no templo da água
resgataria a sua terra prometida
e Saberia toda a Verdade.
(Teresa Cuco-inédito)
domingo, 18 de abril de 2010
explicaram-me as leis da Física...
falaram-me da gravidade
do atrito
da velocidade e do peso
das forças centrífuga e centrípeta
do asfalto
da inclinação
do vento e do tempo
da iluminação
das condições psicológicas
das condições fisiológicas
tempo de percepção
e tempo de reacção
fizeram desenhos e
traçaram trajectórias...
velocidade
travagem
impacto
força
capotamento
arrastamento
colisão
............................................
Depois disseram-me que era melhor
não pensar
(assim conquistaste a eternidade da minha memória;
chorar-te-ei para sempre)
(Teresa Cuco)
disseram-me...
saíste à procura de uma luz
que há muito pressentias
E nunca mais voltaste
Disseram que te transformaste
numa estrela
e que agora velas no céu
todos os caminhantes que se perderam.
(Teresa Cuco; lugares de mim; Corpos Editora, 2006)
Os teus olhos...
de caminhos que só as estrelas entendem
dizem-me poemas e paisagens
que só a noite segreda
os teus olhos falam-me
de mãos e de corpos
e de risos
de manhãs claras
falam-me de tudo o que fui
de tudo o que sou
os teus olhos são o espanto
a descoberta
o rio
a que me dou.
(Teresa Cuco-inédito)
os velhos desfiam as horas...
por detrás das vidraças
contam os dias da solidão
têm memórias de quem passa
todos os dias
para lá da vidraça
contam os passos apressados
e palpita-lhes o coração
quando os passos morrem
na calçada
junto à vidraça
Para lá dela, há outros velhos
que passam
têm guias e bonés e carteiras
a tiracolo
falam línguas estranhas
e calcorreiam em bando
as ruas e as praças da cidade
Param
Filmam
Tiram fotos das fachadas
E das janelas
Por detrás das quais, os velhos,
-os outros- desfiam as horas
e contam os passos
de quem passa.
(Teresa Cuco)
que novas me trazes...
Mil anos de guerra
Mil anos de amor
Corpos quebrados
Corações amargurados
Tanto ódio
Tanta raiva...
Tanto amor guardado
Tanto espanto silenciado...
E estamos tão sós, meu anjo da noite
E engolimos o desejo
E adiamos o beijo
E vergamo-nos ao mesmo peso
Dessa guerra
E dessa Terra
Vórtice que nos embebeda
E nos maltrata
Amor que nos redime
E que nos mata
Nenhumas novas me trazes,
anjo da guerra...
mil anos de noite
mil vagas de terra
mil águas de espanto...
prendem-te nesse céu
cobrem-te nesse chão
e continuamos tão sós, meu anjo da noite
no vórtice
do desejo
no peso
desse beijo
na guerra..
Terra desse Amor.
(Teresa Cuco/2004)
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
sei do que falas...
Sei da noite a agigantar-se
medonha
Sei dos tentáculos a multiplicarem-se dentro das horas
e das horas a encolherem-se dentro dos dias.
Sei do barulho na cabeça
a empurrar o silêncio
a minar o silêncio
a sufocar o silêncio
Sei do peso sem palavras
sem gestos
sem rostos
peso da agonia
do beco sem saída
a entranhar-se por dentro da esperança
Sim.
Eu sei do que falas.
Sei do que sentes.
Sei das guerras, dos tormentos
das esquinas sem ruas e sem praças
e de andar perdida
sem encontrar a minha casa
E sei do medo
E da morte
Eu sei.
Por isso não quero que saibas.
(Teresa Cuco)
agora...
agita-se o coração
e baralham-se as palavras
permaneço aqui-ainda aqui-
na ideia da minha Casa
e vou e voo neste céu
e deito-me e flutuo neste chão
e ergo-me em mim
nesta prece de pedras sagradas
que mudas reverenciam
a memória de outras Casas
e o meu coração enche-se do Silêncio
e o meu peito banha-se deste universo
e eu já não tenho medo
porque já não quero
E a minha estrela está lá.
No coração da terra.
(Teresa Cuco)
senta-te aqui...
Sossega em ti
Não prendas a vida
Aceita os limites
Aceita o tempo
Aceita o medo
Assim os transcenderás.
(Teresa Cuco)
sou quem sou...
no espelho dos teus olhos
Pouso o coração
nas tuas mãos em concha
e acredito na magia
da minha solidão.
Eu cruzei mares para te ver
Trazia um caminho no sangue
e uma luz
única
urgente
para te devolver.
(Teresa Cuco)
fecho-me aqui...
ao redor de ti
Depois ergo uma noite
sem fim
Penduro estrelas no meu céu
Beijo a boca das palavras
E deito-me no silêncio.
Sem mágoas.
(Teresa Cuco)
Estende-se a meus pés ...
o mar da vida
A outra metade da vida
O colo de um Deus oculto
Os braços de uma mãe paciente
Toma a minha mão
Sejamos crianças
Na outra metade da vida.
(Teresa Cuco)
Arrastas essas cadeias...
embrenhas-te nessa bruma
e sonhas com rios
onde as aves matarão a sede
e o mundo lavará as mágoas .
Entretanto, os relógios não se calam!!!
E há um grito de urgência
em tudo o que não fazes.
(Teresa Cuco)
Há gritos...
Ainda procuro aquela janela em cruz no meio da noite cerrada.
(Teresa Cuco)
Faltava-lhe o sono...
O espaço onde a alma se regenera…dizem.
Amanhã seria outro dia
(como se amanhã fosse mais que o prolongar do primeiro dia)
Inclinou-se sobre si
como se fosse outra.
A outra.
E procurou algum sinal de esperança nas cordas emaranhadas do tempo.
Às vezes, lembrava-se de ter sido criança
mas nunca o sonho
nunca o conto de fadas.
Depois fazia um derradeiro esforço
e lembrava-se que lhe haviam contado histórias...
mas não se lembrava do que sentia.
Não se lembrava de sentir.
Lembrava-se de não lhe apetecer a vida.
Nem o riso.
Só muito mais tarde se lembrava de ter rido.
Agora também se esquecia muitas vezes
mas já lhe apetecia mais a vida.
Não sabia porquê.
Há pouco tempo sentira raiva
revolta.
-a raiva inventa uma almofada dentro do peito
e dá-nos coragem para as coisas mais impensadas-dizia-.
fazia-lhe mal a mentira.
E a omissão, que é a mentira dissimulada.
Achava que não sabia amar.
Por isso, ninguém a amava.
Pensava, no entanto, que as suas mãos tinham um amor inexplicavelmente grande…
depois passou-a raiva- como que por magia
e levou-lhe a coragem…
mas não se importou porque sabia que a almofada não era de verdade.
(teresa cuco)
sábado, 12 de dezembro de 2009
os ventos vieram...
Os ventos vieram dos lados do mar
e disseram-me que à boca da tempestade
as aves gritavam o meu nome
e os navios desistiam de se afundar.
Era tarde.
Afoguei-nos neste poema.
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada, 2008, Corpos Editora)
sábado, 5 de dezembro de 2009
leva-me daqui
Leva-me daqui
para onde eu sei que os pássaros cantam
só para mim
Arranca-me de mim
deste vício de me perder
deste silêncio
deste entardecer
deste ensurdecimento
desta cegueira
destes olhos partidos
destes risos vendidos
desta tristeza
Leva-me
Leva-me daqui
para onde os corações são terra virgem
e os campos ainda desejam e clamam
pela água em mim
Leva-me.
Leva-me daqui.
(Teresa Cuco;2009)
domingo, 11 de outubro de 2009
afaga primeiro a sua pele...
sente-lhe as rugosidades.
repara como é possível ver os poros abertos e cheirar todas as cores.
sente-lhe pois o cheiro.
devagar…
com o vagar próprio de quem não tem medo.
então, com a mansidão maior que conseguires encontrar no fundo mais fundo do teu ser,
oferece-lhe o teu corpo.
deita-te assim de bruços sobre ela. sente-a inteira.
apoia-te depois sobre o teu lado esquerdo
encolhe as pernas e abraça-as até que os joelhos toquem o teu queixo.
certifica-te de que entre a tua pele e a dela nada se interpõe.
é importante que a tua orelha esquerda esteja liberta.
puxa o cabelo para a face direita, se fôr caso disso…mas não o amarres-
os cabelos querem-se soltos, para que o vento os possa beijar-
atenta na tua respiração. apazigua qualquer réstia de dor. entrega-a ao universo que saberá como transmutá-la.
respira e espera. sente-te.liberta a mente.
(podes cantar baixinho aquela cantilena que guardaste de uma qualquer infância.)
a pouco e pouco deixarás de sentir o peso do teu corpo.
perderás também a noção de Tempo e Espaço.
não te assustes.
mantém a mente vazia. sente a sua pele na tua pele.
e vê como te enches de Amor por todas coisas dentro de ti.
sentirás então um estranho pulsar de um coração gigante em uníssono com o teu.
uma luz que não saberás dizer inundará todo o teu Ser.
e sentirás verdadeiramente o teu Deus.
acabaste de ouvir o coração da Terra.
Teresa Cuco "do Amor e da Espada"; corpos editora 2008
sábado, 18 de julho de 2009
ensaiemos o silêncio
que sabem de cor os caminhos
que levam a cada poro
a cada ruga
Olhemo-nos com os olhos da alma.
Aquele olhar.
E ensaiemos o Silêncio.
(Teresa Cuco)
quarta-feira, 3 de junho de 2009
.........................[quase saudade]...............................
Agitam-se os corpos das palavras
secreto dançar insano.
Há no ar uma febre quase a explodir
e os dedos procuram as margens
desses corpos
como se às aves fosse permitido chorar.
Assim crio outro tempo
e me invento outro lugar.
Já rasguei rugas no rosto
e deitei fora os poentes
e guardei nas gavetas
tudo o que era de guardar.
(Teresa Cuco)
quinta-feira, 16 de abril de 2009
escrevo...compulsivamente
Escrevo…
compulsivamente
angustiadamente
escrevo
como se o simples acto de escrever
acalmasse o fogo que me consome
e devorasse as entranhas do meu nome
Escrevo
à procura da palavra
que me falta
do sonho que me mata
deste Silêncio que me tarda
escrevo
escrevo
escrevo
para encontrar o que em mim arde
para descobrir o que em mim É
para que a Verdade me escorra
pelos dedos e se cole
e se instale
E para sempre me afogue
E me Renove.
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada; corpos editora 2008)
quinta-feira, 9 de abril de 2009
na rota do medo te amou,
Rosa dos ventos?
quem calou os teus tremores
quem amainou os teus temores
quem te acalmou os pensamentos?
Quantos contigo ficaram
depois das luzes se apagarem
e o pano enfim descer
quem te amou até doer?
Rosa dos ventos sem Tempo
Rosa dos medos sem norte
Rosa da morte
sem alento.
(Teresa Cuco)
endereço da foto: "http://4.bp.blogspot.com/_4ia-lk4EbPM/SbexRrGIFtI/AAAAAAAAAlA/bkOqZqwGyQU/s400/Mulher_Iraquiana.jpg">
sexta-feira, 3 de abril de 2009
se te amo? não...
Se te amo? Não.
Estás em mim
no meio da corda esticada
no braço que perdeu o abraço
na mão aberta sem peito
na solitária multidão
dos dias que passam
em vão
não
eu não te amo
estás em mim
na beira do meu abismo
na dúvida
no vazio profundo
do meu corpo
que me trai dia após dia
estás sim
tu estás em mim
na corda bamba
da ternura e da raiva
na mágoa crescente
em cada gargalhada
na pena imensa intensa
de sentir que não sou nada
assim, para o bem e para o mal
estás em mim e neste abismo
são mil e uma razões para ficar
e outras tantas para partir
são navalhas abertas
mensagens incertas
de um eterno devir.
(Teresa Cuco in “lugares de mim”corpos editora 2006)
*foto retirada de : Patilicious no Planeta Azul
quinta-feira, 19 de março de 2009
digo Amor
Digo Amor.
não sei que outro nome teriam as mãos
que à noite se lançam e cortam os corpos como espadas
e revolvem entranhas e encetam jornadas.
A noite
traz silenciosas angústias
e obriga a que apertemos contra o peito
um qualquer resto de inocência
que nos sirva no labirinto.
Depois,
há palavras que queimamos na carne
para que nunca nos esqueçamos de quem somos.
Digo Amor
morte
impermanência
verdade
fé.
E digo Amor outra vez.
Não sei que outro nome teria este espaço
onde se deita o coração
para seguirmos adiante
derrubando montanhas
e desbravando caminhos.
Rumo à Terra que há em nós.
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada- corpos editora, 2008)
*imagem retirada da capa de l´homme et son double, de Étienne Guillé, éditions accarias, l'originel, 2000
é esta a nossa solidão...
É esta a nossa solidão…
Apartados da nossa alma
é à procura de nós que andamos…aflitos…
deste Amor maior que o mundo
deste Deus em nós que tudo sabe…
Somos nós o maior inimigo a enfrentar
é sempre dentro de nós
o maior combate.
Penso que é preciso passar a palavra
do medo
da solidão
da morte
do inferno
transformar a palavra dentro do peito
amassar a raiva
explodir a dor
vivê-la até ao fim
perder tudo
ganhar tudo.
É este o grito.
--------------------------------
Anseio pelo silêncio que repousa no coração dos homens.
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada; corpos editora, 2008)
domingo, 15 de março de 2009
liberdade é...
Liberdade é sentires que nada na vida te pertence
Tu és tudo
Liberdade é o esqueleto das árvores
braços esguios
erguidos aos céus na prece
das cegonhas
liberdade é a estrada longa
solitária
vazia
em que cruzas o tempo e te molhas
de nuvens
e sabes em ti
de todo o amor do mundo
e de todos os segredos do universo.
(Teresa Cuco in lugares de mim - corpos editora 2006)
sexta-feira, 6 de março de 2009
"do Amor e da Espada" - poemas à guitarra parte I e II
...e fechando com chave de ouro...
No arco da manhã
abriram-se as portas
e eu passei por ti
etérea beleza
da terra e da vida
que cedo bebi
Nos beirais da tarde
ergueram-se as palavras
e eu cantei por ti
eterna certeza
magia da vida
que encontrei aqui
No ventre da noite
criaram-se as luzes
e eu sonhei por ti
tão grande é o mundo
de um homem sozinho
que chora e sorri
Dádiva do mundo
que teu sentido bebe
um sentir tão fundo
que a lágrima descreve
Dádiva do mundo
tão densa e tão breve
(poema, música e interpretação: João Cágado)
quinta-feira, 5 de março de 2009
"do Amor e da Espada" - tertulia parte IV
em defesa do rock, deste rock em especial... "Magna Terra"(João Cágado & Manuel Dias), como símbolo da minha ligação ao Alentejo:)
neste excerto, o primeiro tema: "Guardador De Rebanhos"
"do Amor e da Espada"- tertulia-parte III
Rodrigues Dias com "tese, antítese e síntese", ou a descoberta de que às vezes também está poeta...uma delícia:)
"do Amor e da Espada"- tertulia-parte I
parte 1.1-altera-se o protocolo e os amigos dão voz aos poemas ...
tarefa do inútil - aam
parte 1- um prefaciador que se recusa a apresentar um livro, porque entende que não há iluminados que digam às pessoas o que é um livro, antes destas o lerem e retirarem as suas próprias ilações...
terça-feira, 3 de março de 2009
mais umas fotos de um serão de partilhas...
parte 1- um prefaciador que se recusa a apresentar um livro, porque entende que não há iluminados que digam às pessoas o que é um livro, antes destas o lerem e retirarem as suas próprias ilações...
parte 2- altera-se o protocolo e os amigos dão voz aos poemas ...
parte 3- sessão pára para uma amiga atender um telefonema importante para si (e porque não)?
parte 4- foi o que se viu: conversa sobre a poesia, é-se ou às vezes está-se poeta?, envolvimento de quem estava comunicador, silêncios de quem estava receptor, risos, a problemática de anjos com asas ou sem asas (porque assim se podem abraçar), o alberto, a ana, o davide, a margarida, o eduardo, o rodrigues dias com "tese, antitese e síntese", ou a descoberta de que às vezes também está poeta...
E pronto, no próximo post darei seguimento à história deste serão fantástico... assim que conseguir ganhar a batalha que estou a travar com o ulead video studio, para colocar um excerto em vídeo, para vosso deleite.
Até lá, obrigada pela partilha:)
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
lançamento "do Amor e da Espada" ; algumas imagens
Deixo-vos algumas imagens da noite fantástica do passado dia 21 de Fevereiro;
breve acrescentarei excertos do que foi dito, musicado, poetado e vivido nesse serão.
Esse, o vivido, só possível devido a todas as pessoas que estiveram presentes: amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos...todos!
Muito obrigada.
Até breve.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
"do Amor e da Espada"- lançamento
Da Fixação como Resistência.
O outro é assim a matriz medieval dos textos fundadores e voltará, pela mão do romantismo a essa fundação seja pelos pseudónimos seja pelos alterónimos. Uma outra tradição fundacional é aquela que chega pelos textos árabes de Al-Mutamid,Ibn-al-murahal ou Ibn-Ammar. Neles a cisão autoral não se verifica e a fragmentação em papéis não é vertida em texto.
Talvez a posmodernidade seja, pela indefinição, o colapso da alteridade e a busca da inteireza ou do veraz.Tal altericídio, porém,não parece restituir o eu por muita negação do ego que seja praticada. O eu, como mito necessário e realidade fisiológica, aparenta-se sempre ao outro que o espelha ou distingue.
Ao ler estes textos de Teresa Cuco, estas reflexões impõem-se-me como nuvem de onde seja possível chover pensamento.
Teresa Cuco pratica uma atinência ao outro, sem no entanto se alterar em voz do outro. A estética mais aguda é, nela, a estética da recepção. Talvez de uma recepção inteira da qual não salvaguarda nenhuma parte neuro-emocional para praticar o póstumo. Esta resistência ao outro (a não mudança, a fixação no outro) traz como resgate a memória impregnada como lição aprendida em Simónides. O teatro da memória, nas ritualidades do quotidiano e antropoculturais, apresenta cada vez mais espectadores e cada vez menos viventes. O sistema de trocas, aparentemente terapêutico, processa-se pelo continuum, pela velocidade contra o sedimento. Muito raro haver quem, como Teresa Cuco, não se deslumbre com o instantâneo e consiga a permanência do invisível.
Ou, como diz Marina Tsevetaeva: “Não é possível dividir-te/em cadáver e fantasma./Não te trocarei pelo fumo dos incensos/Ou pelas flores das campas.”
alberto augusto miranda, in Prefácio, do Amor e da Espada, Teresa Cuco, Editora Corpos, 2008
[Une-nos o silêncio mágico da terra.
O arrepio das memórias das ausências.
Une-nos o espaço em branco
das palavras.
E o poema...
sempre o poema.]
Teresa Cuco, in do Amor e da Espada
As presenças:
Alberto Augusto Miranda, prefaciando...
Poemando... Margarida Morgado, Eduardo Raposo, Davide Santos e Ana de Sousa.
Musicando, nesta noite tão especial, João Cágado e Manuel Dias, com 3 temas de "Magna Terra":
- Guardador De Rebanhos
- Avondo De Mim
- Algo É Nosso
Improvisando... João Cágado, à guitarra, e os poemas de Teresa Cuco pela voz da própria!
e
concluindo... com o tema de encerramento da noite:
- Dádiva Do Mundo
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
há em mim um lugar...
Há em mim um lugar
de recolhimento
uma terra virgem
um templo de meditação
pedra antiga em que me sento
e penso
com um vagar que é só meu
há em mim um lugar
de redenção
em que perdôo e me perdôo
em que me esqueço de tudo e vôo
asas abertas rasando o chão
há em mim uma paisagem
uma planura
cores de terra e de céu
pedras
rios
música de anjos...
há em mim
um lugar que ninguém sabe
de príncipes e de quimeras
de harmonia perfeita
de luz
amor e transparência
de gestos de risos
e risos de manhãs claras
há em mim
um lugar recôndito
de musgo e doces frutos
de flores-amores-perfeitos
onde fecho os olhos
e amanheço.
(Teresa Cuco;"lugares de mim";corpos editora;2006)
vens no fim do dia...
Vens no fim do dia
e trazes-me o espírito da noite
Falas-me
dos cavaleiros andantes
das estrelas que guiam os caminhantes
da magia dos sorrisos
Dizes
de ti
do mundo
de mim
E toda a emoção do universo
acorre aos meus sentidos
E calam-se as guerras
E quebram-se os gritos
E renasce em cada passo
A flor
O mar
A chama
O chão dos anjos pressentidos
A glória da terra
no céu dos esquecidos
....
(Teresa Cuco)
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
escrevi o teu nome
Escrevi o teu nome
com o canto dos pássaros
que finalmente chegaram
e agarrei na terra
sem pensar na morte
esfreguei a cara de vento
e aguardei o cheiro
de mar
que só o trigo sabe dar
depois
aquietei-me na sombra dos teus olhos
na memória da tua voz
na ternura das tuas mãos
na certeza do teu pensamento
Espero agora o renascer.
(Teresa Cuco;"lugares de mim"; corpos editora; 2006)
disseram-me...
Saíste à procura de uma luz
que há muito pressentias
e nunca mais voltaste
Disseram que te transformaste
numa estrela
e que agora velas no céu
todos os caminhantes que se perderam.
(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora; 2006)
apagaram-te os sonhos...
Apagaram-te os sonhos
e foram mais densos os silêncios
e mais frias e cortantes as espadas.
Hoje, como ontem,
és um homem bom.
És um homem só.
(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora, 2006)
domingo, 8 de fevereiro de 2009
alongam-se as horas...
Alongam-se as horas
na memória dos gestos
e todos os seres se foram
e ferem
de ausência
as ondas do silêncio
já não explodem
em espanto
e espuma
e incenso...
e todos os lugares
se confundiram para sempre
e para sempre se perderam
por dentro dos mapas
só este momento nos pertence
intervalo
espaço em branco
pedra ou rio
braços abertos
na esperança do coração da terra.
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
aceito este momento...
Aceito este momento
elevo-me num pensamento
e bebo a minha solidão
este é o meu momento
aceito o pensamento
abro as mãos ao céu
voo nesse esplendor
e renasço eternamente
Porque todo o momento que é Meu
pertence-me simplesmente.
[impossível o erro]
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
ergo esta espada...
Ergo esta espada que Deus me deu
ergo-a do sangue das madrugadas
e dos olhos de água das terras distantes
dos outros peitos
é da fragrância da lonjura que eu falo
e dos mitos e historias que ninguém contou
é dos campos em fogo
é dos vulcões
é dos medos transmutados
da mentira
dos ódios sem palavras
da vida a prazo
do jogo e das vaidades
é de mil joelhos em terra que eu falo
é de orações
e de longos braços abertos
ainda assim teimosamente abertos
na certeza da redenção.
(Teresa Cuco; “do Amor e da Espada”; corpos editora;2008)
até que um dia...
[...até que um dia, há um momento exacto em que te dás conta; o tempo nada mudou e os lugares são cenários de um qualquer filme. ]
Nesse instante, nesse preciso instante,
libertas-te para sempre dessa dor
e sabes e sentes em ti a maior certeza do mundo:
o que é Teu, É simplesmente.
Por muito que te amarrem o corpo,
por muito que te tolham o pensamento,
por muita lágrima, por muito tormento...
É simplesmente! E aí, tanto faz;
não importa se o abraço não acorre ao peito
ou o beijo não acorre à boca;
não importa quantos corpos percorras
ou quantas mãos consintas no teu rosto;
tudo deixa, realmente, de ter importância.
O tempo nada mudará
e os lugares serão sempre cenários
de um qualquer filme.
Porque o que É Teu, É, para sempre!
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
gastei o meu amor nos poemas
Gastei o meu amor nos poemas
elegia infinita da palavra.
Gastei-o pelos teus passos
que outros caminhos pisaram
nas intermináveis horas de solidão.
Gastei a minha ternura
nas folhas brancas da espera.
Gastei-a pelos teus braços
que só os meus braços quiseram
quando outros braços te perderam.
Gastei os meus olhos
nos retratos de outras cidades.
Gastei-os na memória dos teus olhos
quando outros olhos me abandonaram.
Assim se gastou o meu amor
elegia da palavra
poema eterno de ti.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
digo Amor
Digo Amor.
não sei que outro nome teriam as mãos
que à noite se lançam e cortam os corpos como espadas
e revolvem entranhas e encetam jornadas.
A noite, traz silenciosas angústias
e obriga a que apertemos contra o peito
um qualquer resto de inocência que nos sirva no labirinto.
Depois, há palavras que queimamos na carne
para que nunca nos esqueçamos de quem Somos.
Digo Amor
Morte
Impermanência
Verdade
Fé.
E digo Amor outra vez.
Não sei que outro nome teria este espaço
onde se deita o coração para
seguirmos adiante.
Derrubando montanhas e desbravando caminhos.
Rumo à Terra que há em nós.
(Teresa Cuco; "do Amor e da Espada"; corpos editora, 2008)