sábado, 12 de dezembro de 2009
os ventos vieram...
Os ventos vieram dos lados do mar
e disseram-me que à boca da tempestade
as aves gritavam o meu nome
e os navios desistiam de se afundar.
Era tarde.
Afoguei-nos neste poema.
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada, 2008, Corpos Editora)
sábado, 5 de dezembro de 2009
leva-me daqui
Leva-me daqui
para onde eu sei que os pássaros cantam
só para mim
Arranca-me de mim
deste vício de me perder
deste silêncio
deste entardecer
deste ensurdecimento
desta cegueira
destes olhos partidos
destes risos vendidos
desta tristeza
Leva-me
Leva-me daqui
para onde os corações são terra virgem
e os campos ainda desejam e clamam
pela água em mim
Leva-me.
Leva-me daqui.
(Teresa Cuco;2009)
domingo, 11 de outubro de 2009
afaga primeiro a sua pele...
sente-lhe as rugosidades.
repara como é possível ver os poros abertos e cheirar todas as cores.
sente-lhe pois o cheiro.
devagar…
com o vagar próprio de quem não tem medo.
então, com a mansidão maior que conseguires encontrar no fundo mais fundo do teu ser,
oferece-lhe o teu corpo.
deita-te assim de bruços sobre ela. sente-a inteira.
apoia-te depois sobre o teu lado esquerdo
encolhe as pernas e abraça-as até que os joelhos toquem o teu queixo.
certifica-te de que entre a tua pele e a dela nada se interpõe.
é importante que a tua orelha esquerda esteja liberta.
puxa o cabelo para a face direita, se fôr caso disso…mas não o amarres-
os cabelos querem-se soltos, para que o vento os possa beijar-
atenta na tua respiração. apazigua qualquer réstia de dor. entrega-a ao universo que saberá como transmutá-la.
respira e espera. sente-te.liberta a mente.
(podes cantar baixinho aquela cantilena que guardaste de uma qualquer infância.)
a pouco e pouco deixarás de sentir o peso do teu corpo.
perderás também a noção de Tempo e Espaço.
não te assustes.
mantém a mente vazia. sente a sua pele na tua pele.
e vê como te enches de Amor por todas coisas dentro de ti.
sentirás então um estranho pulsar de um coração gigante em uníssono com o teu.
uma luz que não saberás dizer inundará todo o teu Ser.
e sentirás verdadeiramente o teu Deus.
acabaste de ouvir o coração da Terra.
Teresa Cuco "do Amor e da Espada"; corpos editora 2008
sábado, 18 de julho de 2009
ensaiemos o silêncio
que sabem de cor os caminhos
que levam a cada poro
a cada ruga
Olhemo-nos com os olhos da alma.
Aquele olhar.
E ensaiemos o Silêncio.
(Teresa Cuco)
quarta-feira, 3 de junho de 2009
.........................[quase saudade]...............................
Agitam-se os corpos das palavras
secreto dançar insano.
Há no ar uma febre quase a explodir
e os dedos procuram as margens
desses corpos
como se às aves fosse permitido chorar.
Assim crio outro tempo
e me invento outro lugar.
Já rasguei rugas no rosto
e deitei fora os poentes
e guardei nas gavetas
tudo o que era de guardar.
(Teresa Cuco)
quinta-feira, 16 de abril de 2009
escrevo...compulsivamente
Escrevo…
compulsivamente
angustiadamente
escrevo
como se o simples acto de escrever
acalmasse o fogo que me consome
e devorasse as entranhas do meu nome
Escrevo
à procura da palavra
que me falta
do sonho que me mata
deste Silêncio que me tarda
escrevo
escrevo
escrevo
para encontrar o que em mim arde
para descobrir o que em mim É
para que a Verdade me escorra
pelos dedos e se cole
e se instale
E para sempre me afogue
E me Renove.
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada; corpos editora 2008)
quinta-feira, 9 de abril de 2009

na rota do medo te amou,
Rosa dos ventos?
quem calou os teus tremores
quem amainou os teus temores
quem te acalmou os pensamentos?
Quantos contigo ficaram
depois das luzes se apagarem
e o pano enfim descer
quem te amou até doer?
Rosa dos ventos sem Tempo
Rosa dos medos sem norte
Rosa da morte
sem alento.
(Teresa Cuco)
endereço da foto: "http://4.bp.blogspot.com/_4ia-lk4EbPM/SbexRrGIFtI/AAAAAAAAAlA/bkOqZqwGyQU/s400/Mulher_Iraquiana.jpg">
sexta-feira, 3 de abril de 2009
se te amo? não...

Se te amo? Não.
Estás em mim
no meio da corda esticada
no braço que perdeu o abraço
na mão aberta sem peito
na solitária multidão
dos dias que passam
em vão
não
eu não te amo
estás em mim
na beira do meu abismo
na dúvida
no vazio profundo
do meu corpo
que me trai dia após dia
estás sim
tu estás em mim
na corda bamba
da ternura e da raiva
na mágoa crescente
em cada gargalhada
na pena imensa intensa
de sentir que não sou nada
assim, para o bem e para o mal
estás em mim e neste abismo
são mil e uma razões para ficar
e outras tantas para partir
são navalhas abertas
mensagens incertas
de um eterno devir.
(Teresa Cuco in “lugares de mim”corpos editora 2006)
*foto retirada de : Patilicious no Planeta Azul
quinta-feira, 19 de março de 2009
digo Amor

Digo Amor.
não sei que outro nome teriam as mãos
que à noite se lançam e cortam os corpos como espadas
e revolvem entranhas e encetam jornadas.
A noite
traz silenciosas angústias
e obriga a que apertemos contra o peito
um qualquer resto de inocência
que nos sirva no labirinto.
Depois,
há palavras que queimamos na carne
para que nunca nos esqueçamos de quem somos.
Digo Amor
morte
impermanência
verdade
fé.
E digo Amor outra vez.
Não sei que outro nome teria este espaço
onde se deita o coração
para seguirmos adiante
derrubando montanhas
e desbravando caminhos.
Rumo à Terra que há em nós.
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada- corpos editora, 2008)
*imagem retirada da capa de l´homme et son double, de Étienne Guillé, éditions accarias, l'originel, 2000
é esta a nossa solidão...

É esta a nossa solidão…
Apartados da nossa alma
é à procura de nós que andamos…aflitos…
deste Amor maior que o mundo
deste Deus em nós que tudo sabe…
Somos nós o maior inimigo a enfrentar
é sempre dentro de nós
o maior combate.
Penso que é preciso passar a palavra
do medo
da solidão
da morte
do inferno
transformar a palavra dentro do peito
amassar a raiva
explodir a dor
vivê-la até ao fim
perder tudo
ganhar tudo.
É este o grito.
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Anseio pelo silêncio que repousa no coração dos homens.
(Teresa Cuco in do Amor e da Espada; corpos editora, 2008)
domingo, 15 de março de 2009
liberdade é...
Liberdade é sentires que nada na vida te pertence
Tu és tudo
Liberdade é o esqueleto das árvores
braços esguios
erguidos aos céus na prece
das cegonhas
liberdade é a estrada longa
solitária
vazia
em que cruzas o tempo e te molhas
de nuvens
e sabes em ti
de todo o amor do mundo
e de todos os segredos do universo.
(Teresa Cuco in lugares de mim - corpos editora 2006)
sexta-feira, 6 de março de 2009
"do Amor e da Espada" - poemas à guitarra parte I e II
...e fechando com chave de ouro...
No arco da manhã
abriram-se as portas
e eu passei por ti
etérea beleza
da terra e da vida
que cedo bebi
Nos beirais da tarde
ergueram-se as palavras
e eu cantei por ti
eterna certeza
magia da vida
que encontrei aqui
No ventre da noite
criaram-se as luzes
e eu sonhei por ti
tão grande é o mundo
de um homem sozinho
que chora e sorri
Dádiva do mundo
que teu sentido bebe
um sentir tão fundo
que a lágrima descreve
Dádiva do mundo
tão densa e tão breve
(poema, música e interpretação: João Cágado)
quinta-feira, 5 de março de 2009
"do Amor e da Espada" - tertulia parte IV
em defesa do rock, deste rock em especial... "Magna Terra"(João Cágado & Manuel Dias), como símbolo da minha ligação ao Alentejo:)
neste excerto, o primeiro tema: "Guardador De Rebanhos"
"do Amor e da Espada"- tertulia-parte III
Rodrigues Dias com "tese, antítese e síntese", ou a descoberta de que às vezes também está poeta...uma delícia:)
"do Amor e da Espada"- tertulia-parte I
parte 1.1-altera-se o protocolo e os amigos dão voz aos poemas ...
tarefa do inútil - aam
parte 1- um prefaciador que se recusa a apresentar um livro, porque entende que não há iluminados que digam às pessoas o que é um livro, antes destas o lerem e retirarem as suas próprias ilações...
terça-feira, 3 de março de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
"do Amor e da Espada"- lançamento

Da Fixação como Resistência.
O outro é assim a matriz medieval dos textos fundadores e voltará, pela mão do romantismo a essa fundação seja pelos pseudónimos seja pelos alterónimos. Uma outra tradição fundacional é aquela que chega pelos textos árabes de Al-Mutamid,Ibn-al-murahal ou Ibn-Ammar. Neles a cisão autoral não se verifica e a fragmentação em papéis não é vertida em texto.
Talvez a posmodernidade seja, pela indefinição, o colapso da alteridade e a busca da inteireza ou do veraz.Tal altericídio, porém,não parece restituir o eu por muita negação do ego que seja praticada. O eu, como mito necessário e realidade fisiológica, aparenta-se sempre ao outro que o espelha ou distingue.
Ao ler estes textos de Teresa Cuco, estas reflexões impõem-se-me como nuvem de onde seja possível chover pensamento.
Teresa Cuco pratica uma atinência ao outro, sem no entanto se alterar em voz do outro. A estética mais aguda é, nela, a estética da recepção. Talvez de uma recepção inteira da qual não salvaguarda nenhuma parte neuro-emocional para praticar o póstumo. Esta resistência ao outro (a não mudança, a fixação no outro) traz como resgate a memória impregnada como lição aprendida em Simónides. O teatro da memória, nas ritualidades do quotidiano e antropoculturais, apresenta cada vez mais espectadores e cada vez menos viventes. O sistema de trocas, aparentemente terapêutico, processa-se pelo continuum, pela velocidade contra o sedimento. Muito raro haver quem, como Teresa Cuco, não se deslumbre com o instantâneo e consiga a permanência do invisível.
Ou, como diz Marina Tsevetaeva: “Não é possível dividir-te/em cadáver e fantasma./Não te trocarei pelo fumo dos incensos/Ou pelas flores das campas.”
alberto augusto miranda, in Prefácio, do Amor e da Espada, Teresa Cuco, Editora Corpos, 2008
[Une-nos o silêncio mágico da terra.
O arrepio das memórias das ausências.
Une-nos o espaço em branco
das palavras.
E o poema...
sempre o poema.]
Teresa Cuco, in do Amor e da Espada
As presenças:
Alberto Augusto Miranda, prefaciando...
Poemando... Margarida Morgado, Eduardo Raposo, Davide Santos e Ana de Sousa.
Musicando, nesta noite tão especial, João Cágado e Manuel Dias, com 3 temas de "Magna Terra":
- Guardador De Rebanhos
- Avondo De Mim
- Algo É Nosso
Improvisando... João Cágado, à guitarra, e os poemas de Teresa Cuco pela voz da própria!
e
concluindo... com o tema de encerramento da noite:
- Dádiva Do Mundo
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
há em mim um lugar...
Há em mim um lugar
de recolhimento
uma terra virgem
um templo de meditação
pedra antiga em que me sento
e penso
com um vagar que é só meu
há em mim um lugar
de redenção
em que perdôo e me perdôo
em que me esqueço de tudo e vôo
asas abertas rasando o chão
há em mim uma paisagem
uma planura
cores de terra e de céu
pedras
rios
música de anjos...
há em mim
um lugar que ninguém sabe
de príncipes e de quimeras
de harmonia perfeita
de luz
amor e transparência
de gestos de risos
e risos de manhãs claras
há em mim
um lugar recôndito
de musgo e doces frutos
de flores-amores-perfeitos
onde fecho os olhos
e amanheço.
(Teresa Cuco;"lugares de mim";corpos editora;2006)
vens no fim do dia...
Vens no fim do dia
e trazes-me o espírito da noite
Falas-me
dos cavaleiros andantes
das estrelas que guiam os caminhantes
da magia dos sorrisos
Dizes
de ti
do mundo
de mim
E toda a emoção do universo
acorre aos meus sentidos
E calam-se as guerras
E quebram-se os gritos
E renasce em cada passo
A flor
O mar
A chama
O chão dos anjos pressentidos
A glória da terra
no céu dos esquecidos
....
(Teresa Cuco)
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
escrevi o teu nome
Escrevi o teu nome
com o canto dos pássaros
que finalmente chegaram
e agarrei na terra
sem pensar na morte
esfreguei a cara de vento
e aguardei o cheiro
de mar
que só o trigo sabe dar
depois
aquietei-me na sombra dos teus olhos
na memória da tua voz
na ternura das tuas mãos
na certeza do teu pensamento
Espero agora o renascer.
(Teresa Cuco;"lugares de mim"; corpos editora; 2006)
disseram-me...
Saíste à procura de uma luz
que há muito pressentias
e nunca mais voltaste
Disseram que te transformaste
numa estrela
e que agora velas no céu
todos os caminhantes que se perderam.
(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora; 2006)
apagaram-te os sonhos...
Apagaram-te os sonhos
e foram mais densos os silêncios
e mais frias e cortantes as espadas.
Hoje, como ontem,
és um homem bom.
És um homem só.
(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora, 2006)
domingo, 8 de fevereiro de 2009
alongam-se as horas...
Alongam-se as horas
na memória dos gestos
e todos os seres se foram
e ferem
de ausência
as ondas do silêncio
já não explodem
em espanto
e espuma
e incenso...
e todos os lugares
se confundiram para sempre
e para sempre se perderam
por dentro dos mapas
só este momento nos pertence
intervalo
espaço em branco
pedra ou rio
braços abertos
na esperança do coração da terra.
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
aceito este momento...
Aceito este momento
elevo-me num pensamento
e bebo a minha solidão
este é o meu momento
aceito o pensamento
abro as mãos ao céu
voo nesse esplendor
e renasço eternamente
Porque todo o momento que é Meu
pertence-me simplesmente.
[impossível o erro]
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
ergo esta espada...
Ergo esta espada que Deus me deu
ergo-a do sangue das madrugadas
e dos olhos de água das terras distantes
dos outros peitos
é da fragrância da lonjura que eu falo
e dos mitos e historias que ninguém contou
é dos campos em fogo
é dos vulcões
é dos medos transmutados
da mentira
dos ódios sem palavras
da vida a prazo
do jogo e das vaidades
é de mil joelhos em terra que eu falo
é de orações
e de longos braços abertos
ainda assim teimosamente abertos
na certeza da redenção.
(Teresa Cuco; “do Amor e da Espada”; corpos editora;2008)
até que um dia...
[...até que um dia, há um momento exacto em que te dás conta; o tempo nada mudou e os lugares são cenários de um qualquer filme. ]
Nesse instante, nesse preciso instante,
libertas-te para sempre dessa dor
e sabes e sentes em ti a maior certeza do mundo:
o que é Teu, É simplesmente.
Por muito que te amarrem o corpo,
por muito que te tolham o pensamento,
por muita lágrima, por muito tormento...
É simplesmente! E aí, tanto faz;
não importa se o abraço não acorre ao peito
ou o beijo não acorre à boca;
não importa quantos corpos percorras
ou quantas mãos consintas no teu rosto;
tudo deixa, realmente, de ter importância.
O tempo nada mudará
e os lugares serão sempre cenários
de um qualquer filme.
Porque o que É Teu, É, para sempre!
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora;2006)
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
gastei o meu amor nos poemas
Gastei o meu amor nos poemas
elegia infinita da palavra.
Gastei-o pelos teus passos
que outros caminhos pisaram
nas intermináveis horas de solidão.
Gastei a minha ternura
nas folhas brancas da espera.
Gastei-a pelos teus braços
que só os meus braços quiseram
quando outros braços te perderam.
Gastei os meus olhos
nos retratos de outras cidades.
Gastei-os na memória dos teus olhos
quando outros olhos me abandonaram.
Assim se gastou o meu amor
elegia da palavra
poema eterno de ti.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
digo Amor
Digo Amor.
não sei que outro nome teriam as mãos
que à noite se lançam e cortam os corpos como espadas
e revolvem entranhas e encetam jornadas.
A noite, traz silenciosas angústias
e obriga a que apertemos contra o peito
um qualquer resto de inocência que nos sirva no labirinto.
Depois, há palavras que queimamos na carne
para que nunca nos esqueçamos de quem Somos.
Digo Amor
Morte
Impermanência
Verdade
Fé.
E digo Amor outra vez.
Não sei que outro nome teria este espaço
onde se deita o coração para
seguirmos adiante.
Derrubando montanhas e desbravando caminhos.
Rumo à Terra que há em nós.
(Teresa Cuco; "do Amor e da Espada"; corpos editora, 2008)
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
vislumbrei-te...
Vislumbrei-te
na esquina de outro tempo
quando era impossível voltar atrás
Vislumbrei-te e passei adiante.
Cruzei os mares e os mundos
movi montanhas
aticei guerras
morri nos abismos
dei à luz outras terras
renasci de mim
em cada segundo
E quando te pensava distante
afinal eras eu
no virar do tempo.
Mais adiante.
(Teresa Cuco;"lugares de mim"; corpos editora,2006)
o dia ergueu-se...
O dia ergueu-se das margens do teu corpo.
E todos os gestos
de todas as manhãs
se tornaram subitamente brandos.
(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora, 2006)
entre nós e as palavras...
Entre nós e as palavras
há o Silêncio
e a certeza da eternidade
entre nós e as palavras
há a coincidência
o mágico e consentido
esquecimento
da Verdade
entre nós e as palavras
há o Vazio
o indizível
o que não tem forma
nem verbo
nem vontade
entre nós e as palavras
o Divino
Sagrado
Inevitável
Predestinado
E é nesse Silêncio
nesse Vazio
nessa Ausência
que me reconheço
e cresço
e me invento
e nos reinvento
e revejo a minha Casa.
Só depois vêm as palavras.
(Teresa Cuco; "lugares de mim"; corpos editora,2006)
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
se falo desses lugares...
[Se falo desses lugares
é porque sei que já lá estivemos]
mas isso foi no tempo
em que eu era apenas
uma brisa na tua cara.
(Teresa Cuco; “lugares de mim”; corpos editora,2006)
deixo em branco...
Deixo em branco o espaço da ternura
e elevo o Silêncio da tua memória.
Assim escrevo as páginas da tua ausência
e os segredos ocultos na voz do vento
projectam-se
nas paredes de todas as casas
e de todos os corações
finalmente desfeitos
finalmente vazios.
Na verticalidade do sentir
cruzo-me com todos os poetas
que morreram antes de mim.
(Teresa Cuco;"lugares de mim";Corpos editora-2006)